quinta-feira, março 16, 2006

Falta

A saudade é uma coisa manhosa. A saudade ensina. A saudade esclarece e surpreende! A saudade dá-nos a volta. A saudade massacra, torna-nos débeis, voláteis. Às vezes o algodão engana, mas é mais seguro tê-lo ainda que se possa ter seda.

quinta-feira, março 09, 2006

I want to buy you flowers! It's such a shame you're a boy...

Quadradinhos

E quando o céu está naquele vai não vai? Todos os tons de azul e cinza passam a correr pelo mesmo quadradinho de céu. É uma vidinha! E por um azulejo da minha casa de banho? Também! Tão depressa está cintilante como se mostra todo baço, cheio de humidade. Um quadradinho do meu fogão... Chego a ter pena! Um quadradinho da caixa da areia do meu gato. Um quadradinho de uma folha branca de papel que se dá à prima de 3 anos. Um quadradinho da palete dum pintor. As mãos dum mecânico, dum agricultor, dum escultor... Um quadradinho da minha bata. Também por um quadradinho de vida passam inúmeras cores e tonalidades.

domingo, março 05, 2006

Oh tu aí!

Olá. Olá. Posso? Podes. Então com licença. Espera! O que foi? Espera! Mas disseste que podia... Espera um pouco. O que se passa? Não sei, é estranho. Mas o que tens? Não sei. Não te sentes bem? Sinto-me. Não percebo então... Calma! Explica-te! A música! Qual música? A música do outro dia. A do filme? Não! Então qual? A do jantar. Ah essa! Lembras-te? Uma coisa que ninguém esquece! Tinha uma melodia magnífica, só me apetecia agarra-la, com força, muita força e só largar quando estivesse completamente segura do que sou... assim poderia deixar-me ir ao sabor das suas ondas, chegar mesmo a adormecer, aquele minutinho que precede o sono profundo, em que sabes que estás acordado mas que tens a sensação que já sonhas...

quarta-feira, março 01, 2006

Na Véspera (de não partir nunca)

Álvaro de Campos

Na véspera de não partir nunca
Ao menos não há que arrumar malas
Nem que fazer planos em papel,
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos,
Para o partir ainda livre do dia seguinte.
Não há que fazer nada
Na véspera de não partir nunca.
Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego!
Grande tranqüilidade a que nem sabe encolher ombros
Por isto tudo, ter pensado o tudo
É o ter chegado deliberadamente a nada.
Grande alegria de não ter precisão de ser alegre,
Como uma oportunidade virada do avesso.
Há quantas vezes vivo
A vida vegetativa do pensamento!
Todos os dias sine linea
Sossego, sim, sossego...
Grande tranqüilidade...
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
Que prazer olhar para as malas fítando como para nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
Dormita!
É pouco o tempo que tens! Dormita!
É a véspera de não partir nunca!